Francisco de Assis
"FRANCISCO, O SER HUMANO ABERTO, INTEIRAMENTE DISPONÍVEL À PARTILHA."
Francisco de Assis, fonte bendita e inspiradora, ilumina um itinerário que nos põe em crise, nos emociona, dá evocações e pode orientar um método para o desenvolvimento da fraternidade, à medida que se opôs, como um singular revolucionário, às desigualdades do seu tempo, ambientado pelo mundo feudal falido e pela nascente da burguesia, do capital materializado.
Leonardo Boft nos diz que, diante da sua preocupaação pelos infiéis sarracenos, "Francisco de Assis toma parte em uma das cruzadas. E fica escandalizado ao perceber que os cruzados, em vez de combaterem os muçulmanos sarracenos, brigam entre si e se matam, alemães contra franceses, lombardos contra sicilianos. Ele fica desesperado e tenta atravessar as fronteiras. Prendem-no e levam-no diretamente ao sultão MelekelKamel. Francisco tem um diálogo com o sultão, de grande doçura, beleza e pacificação. O sultão, emocionado, diz: 'De ora em diante, Francisco e seus filhos poderão frequentar todos os lugares santos da Palestina." (1)
Francisco, o ser humano aberto, inteiramente disponível à partilha. Com isso, na alegação de Boft, Francisco foi capaz de reconhecer no sultão do Egito não o muçulmano e, por isso, o adversário, mas o ser humano e irmão, porque a sua revolução foi vivenciar com o coração a fraternidade universal, segundo o descrito em Mateus (23:8), onde Jesus diz: "Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi; porque um só é vosso Mestre, e todos vós sois irmãos".
O padre Antônio Vieira, no seu Sermão sobre as Chagas de Francisco, dizia: "Despi a Francisco e vereis a Cristo, vesti a Cristo e vereis a Francisco. Francisco é a segunda estampa de Cristo". (2) Francisco caminhou a passos tão amorosamente apressados que adentrou a esfera do Cristo ...
Há outra dimensão de Francisco que nos toca a alma, como um poema bucólico: a conexão de Francisco com a Terra Mãe, que os gregos diziam Gaia, organismo vivo. Sua atitude desapegada e respeitosa pela teia da vida, deslumbrado com uma plantinha, o "irmão rio", um bando de passarinhos em revoada ... Ah!, irmão Sol, "que clareia o dia e com sua luz nos ilumina"(3).
Com essa alegre convivência, Francisco agregou ao seu Ser a ventura da relação amorosa e humilde com a escuta da terra, do céu, das plantas, dos animais, dos filhos e das filhas de Deus consoante um seminal encontro com todos os seres que habitam a mesma Terra - nosso ethos, nossa morada ...
Mas há uma categoria em Francisco que faz estremecer o coração: a pobreza de Francisco, que ensina que quanto mais uma pessoa dá, mais humanidade ela tem e, por isso, mais compassiva se torna, pois desenvolve a competência de sentir com o outro, solidarizando-se.
A vida de Francisco é a da grandeza de alma. Ele tornou-se santo à medida que entendeu que a santidade não é privilégio, mas responsabilidade e conquista - conquista do processo da travessia das sombras e da florescência do amor e de todas as demais virtudes, que não temem o dlálogo e a concórdia ... Profundamente servo, genuinamente livre, poeta da natureza, irmão dos seus irmãos, sublime instrumento da paz.
Vasta é a vida e bendita é a vida; diria Francisco. Não vá por aí, cantaria ele, movido por sua assistência desinteressada. Segue o coração, pois nele dorme o seu tesouro. Desperta! Olha o Sol e agradece a irmã Lua, um presente da Criação. Confia, pois há sem cessar oportunidade para o perdão. Estala o coração endurecido, pois o amor é semente que quer germinar e curar tudo que sofre; então, serve a Deus, serve à luz que reside no seu Ser à espera de um futuro girassol.
Ah, Francisco!, como nos esclareceu o Consolador Prometido, cedo ou tarde, fatalmente aprenderemos com o nosso coração aceso a rogar o seu pedido:
Grande Artífice da Verdade!
... aqui estamos nesta casa do teu coração,
como sermos penitentes em busca da perfeição,
e queremos encontrar os meios, que nos fogem da razão.
E em paz, como tu, rogaremos: "Abençoa-nos todos os nossos familiares, a Humanidade inteira, os pássaros, os peixes, os animais e a Terra em que vivemos." (4)
Bibliografia:
(1) LELOUP, Jean-Yves, BOFF, Leonardo. Terapeutas do deserto: de Fílon de Alexandria e Francisco de Assis a Graf Dürckheim. Lise M. Alves de Lima (Org.). Tradução Pierre Weil. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997, p. 71.
(2) VI EIRA, Padre Antônio. Sermão das Chagas de São Francisco.
(3) ASSIS, Francisco de. Cântico do Irmão Sol (também conhecido como Cântico das Criaturas - Laudes Criatura rum).
(4) Idem. Pedimos·te.
Eugena Pickina - Jornal O Semeador
Retirado do site: https://www.comunidadeespirita.com.br/artigos/ARTIGOS2010/elogio%20a%20francisco%20o%20pobrezinho%20de%20assis.htm